segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Artigo publicado em: 11/08/2008

Prometeu e o jardim de Adônis
Platão no diálogo de Protágoras refere-se ao mito de Prometeu (o que pensa antes) e Epimeteu (o que pensa depois) para refletir sobre a questão da justiça. Conta-se que os deuses do Olimpo decidiram sobre a criação dos mortais e, depois de terem definido sobre os elementos necessários para essa criação, antes que viesse a luz do dia, era necessário completar a tarefa com a distribuição das qualidades para que estes seres pudessem sobreviver e se multiplicar. A esta tarefa foram incumbidos os irmãos Prometeu e Epimeteu; este preferiu fazer a distribuição e Prometeu verificaria o resultado. Epimeteu não era muito organizado e foi distribuindo as qualidades entre os vários animais especialmente para que houvesse equilíbrio entre a dotação de diferentes recursos, de modo que não ocorresse uma catástrofe. Convinha que os maiores não fossem tão rápidos e os mais vorazes não fossem herbívoros. Ocorreu que ao final do seu tempo de distribuição, antes que viesse a luz do dia, tendo já distribuído todas as competências, ficou esquecido o homem. Ser frágil, totalmente indefeso, mal dotado, uma penúria! O que fazer? Procurou o irmão Prometeu e ele disse que iria resolver o assunto. Foi ao Olimpo, a morada dos deuses, entrou astuciosamente e furtou o fogo de Vulcano (deus das técnicas) e a inteligência de Atena. A posse da inteligência e o domínio do fogo pelas técnicas tornariam o homem capaz de se defender dos outros animais que possuíam garras, mandíbulas fortes, pele grossa, e não passar fome sendo capaz de prover suas necessidades através do trabalho. No entanto, verificou-se que os homens não eram capazes de sobreviver sem a arte política, porquanto ao começarem a se agrupar, para se defender dos animais, logo começou a haver confusão e briga entre eles. As qualidades técnicas que receberam não eram suficientes para conseguirem viver em paz. Era necessária a sabedoria e a arte política. Zeus, ao considerar que a recém-criada humanidade iria se autodestruir, enviou seu mensageiro Hermes para lhes prover da arte política, tornando-os capazes da defesa da justiça e da liberdade, que são atributos dos deuses. Hermes interpela Zeus sobre como distribuir a justiça entre os homens, pois com relação às capacidades técnicas foram atribuídas de forma que se completassem mutuamente. Zeus foi taxativo em afirmar que a justiça deveria ser distribuída equitativamente entre todos, caso contrário não haveria paz.
O discurso político pode se transformar numa técnica cheia de falsidade quando a palavra é semeada mais para confundir do que para esclarecer. Por isso, Platão, no diálogo de Sócrates com Fedro sobre a verdade, se refere ao mito de Adônis (amante de Afrodite), morto num acidente de caça, e Zeus, a pedido dela, permite que Adônis ressurja do reino dos mortos durante a metade do ano. Os gregos comemoravam o ressurgimento de Adônis, semeando nos conhecidos “Jardins de Adônis”. Não eram verdadeiros jardins, porquanto durante os festejos colocavam-se sementes de fácil crescimento, em vasos dispostos nos lugares semelhantes a estufas, e as plantas cresciam rapidamente. Com a mesma brevidade que se desenvolviam, também feneciam.
No mito de Prometeu, verifica-se a insuficiência das competências técnicas, pois são potências cegas e requerem as qualidades do coração humano como são a sabedoria e a justiça. Não obstante, estas qualidades não se desenvolvem como as sementes dos jardins de Adônis, somente chegam aos frutos através de um trabalho perseverante. A educação política se faz através de exemplos de sacrifício e esforço continuados. A mentira dos jardins de Adônis desenvolve-se rapidamente na camuflagem das barbaridades realizadas nos recantos do poder com a manipulação da verdade fingindo-se defender os princípios de justiça e de liberdade.
Tesouro perene está no cultivo esforçado das virtudes políticas por todos os cidadãos e as estratégias utilitárias não transformam um grupo de pessoas em um povo com visão de futuro. “As nações sobrevivem na história, não pelos seus efêmeros empreendimentos materiais, mas, sobretudo, pela marca inapagável que sua cultura deixa na face do tempo”.
Temos de repudiar os poderosos que se nutrem da astúcia e artimanhas de Prometeu e semeiam a falsidade dos jardins de Adônis, porquanto os frutos da verdadeira democracia crescem sob o cultivo da Justiça e da Liberdade. Quanto deve fascinar a excelência da Justiça, como desejava Rui Barbosa: “mais alta que a coroa dos reis e tão pura quanto as coroas dos santos.”

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Artigo publicaod em: 04/08/2008

Empreendedorismo


Empreender exige prudência! "É prudente o que vê ao longe, o que é perspicaz e prevê com certeza através da incerteza dos acontecimentos". Empreender na direção errada significa correr muito, mas fora do caminho. Os grandes empreendedores destacam-se porque manuseiam mais conhecimentos que os demais e a realidade aparece cheia de possibilidades aos seus olhos por serem capazes de interpretá-la em um grande número de operações.
A inteligência criadora exige do empreendedor as etapas de qualquer atividade humana como o tempo de preparar a terra, semear, cuidar do campo, colher e armazenar. O seu descuido confirma a máxima: "Erraste o caminho se desprezas as coisas pequenas." Vem como luva à mão o conselho de São Josemaría Escrivá ao dizer: "Não esqueças que, na terra, tudo o que é grande começou por ser pequeno. O que nasce grande é monstruoso e morre."
Quem não calcula antes de construir é bem provável que não termine a sua casa e seja motivo justo de chacota. Hoje no Brasil, mesmo sendo necessária a atividade do empreendedor para gerar riqueza e novas frentes de trabalho, sobra-lhe arrojo que o leva tantas vezes à temeridade, porquanto não se detém para conhecer bem o mercado e os seus possíveis riscos.
É necessário difundir os conhecimentos mínimos para iniciar o processo de gestação do empreendedor forjado nas virtudes do caráter como são a prudência, para melhorar o seu processo de tomada de decisões, a justiça para ser íntegro no serviço a todos implicados com a sua atividade, a temperança que possibilita o autocontrole, pois sem ela facilmente se perde o domínio de qualquer empreendimento e a fortaleza para atuar com audácia e magnanimidade - capacidade das almas grandes e empreendem metas grandes - e simultaneamente faz resistir às dificuldades que se interpõem no seu caminho.
É muito sugestivo outro pensamento de Escrivá: "Viste como levantaram aquele edifício de grandeza imponente? - Um tijolo, e outro. Milhares. Mas, um a um. - E sacos de cimento, um a um. E blocos de pedra, que são bem pouco ante a mole do conjunto. - E pedaços de ferro. - E operários trabalhando, dia a dia, as mesmas horas... Viste como levantaram aquele edifício de grandeza imponente?... À força de pequenas coisas!" Nele encerram-se grandes ensinamentos, pois primeiro é preciso ter em mente o plano de ação e depois estar com os braços e a mente bem firmes para trabalhar com constância, cuidando de todos os detalhes até conseguir os resultados.
Também há razão de sobra no pensamento: "Não julgues nada pela pequenez dos começos. Uma vez fizeram-me notar que não se distinguem pelo tamanho as sementes que darão ervas anuais das que vão produzir árvores centenárias." O valor de uma atividade depende do seu "código genético", da sua arquitetura, isto é, do espírito com que ela nasce. Esse "código genético" é a sua competência essencial, o que a distingue intrinsecamente das outras atividades como fator de crescimento seguro. Revela-se tal competência-chave pela qualidade do conhecimento que se agrega à atividade, pelos aspectos inovadores difíceis de serem imitados e pelo desenvolvimento das pessoas colocadas no cerne desta atividade.
Há três aspectos-chave para o crescimento das competências do empreendedor: saber, querer e fazer. Não é suficiente saber, pois do saber ao fazer é preciso desenvolver disposições para atacar as questões com objetividade, firmeza e perseverança. O empreendedor desenvolve-se na forja em que o fogo é o conhecimento e o trabalho árduo é o malho que configura a atividade.
O Brasil precisa de muitos empreendedores que trabalhem eticamente para construir a nação. Há muitas frentes em que lutar e há muita coisa por fazer, o país pode crescer e deve crescer muito e especialmente para eliminar as distâncias entre os mais ricos e os mais pobres. A atitude que se pretende nestas considerações é proativa. Jorge Lacerda, governador catarinense, instigava a buscar nos desbravadores o exemplo de coragem, o estímulo para a luta e para o trabalho, dizia ele: "No começo, pois, tudo conspirou contra o desbravador nos seus primeiros arremessos pelo sertão adentro. A luta pela posse do meio não conheceu tréguas na sua agressividade. Daí essa energia inquebrantável que mais tarde se transformou em força criadora e trabalho construtivo, energia que vamos encontrar, não só nos nossos maiores, mas também, entre os humildes, na vida anônima do homem comum, símbolo de grandeza ignorada e resistência moral numa época de perturbadoras descrenças e fundos pessimismos."